quinta-feira, abril 09, 2009

G-20: Algumas promessas e muitas dúvidas

Londres, abril/2009 – Para quem está concentrado em erradicar a pobreza e a desigualdade, o maior risco da reunião de cúpula do G-20 era o de que os países mais ricos usassem a depressão financeira global para reduzir seus compromissos em matéria de ajuda e colocar em primeiro lugar seus próprios interesses. Isso significaria um desastre para milhões de pessoas que sofrem pela fome em crescimento, pela mudança climática e por uma vida em profunda pobreza no mundo em desenvolvimento. É nesta hora que mais se necessita da ajuda e quando as soluções devem ser audazes.

Quando o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, finalmente se apresentou para anunciar os termos do "acordo", fomos cautelosamente otimistas: prometeu mais de US$ 1 trilhão para empréstimos de emergência, a fim de ajudar os países em apuros. A magnitude da quantia parecia impossível de ser entendida e os mecanismos para entregá-la aos países mais pobres são, no mínimo, duvidosos.

Talvez o aspecto mais preocupante é que o G-20 propõe entregar esses maciços recursos majoritariamente por meio das já existentes instituições financeiras internacionais, como o Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial e os bancos regionais de desenvolvimento, que no passado insistiram na aplicação de fracassadas políticas de globalização como condição para que as nações pobres recebessem ajuda.

Os governos dos países pobres frequentemente são forçados a implementar políticas de livre comércio, é imposta a desregulamentação de seus mercados financeiros e de capitais, além de reduções nos gastos com saúde e educação. Isso continuará agora? A reunião não foi clara a esse respeito. Estamos afirmando, há anos, que essas instituições precisam, urgentemente, ser reformuladas e que, se receberem mais dinheiro sem a concretização da reforma, podem não ajudar as pessoas que mais necessitam dela.Também estamos cautelosos e desconfiados, por causa da falta de detalhes sobre o uso de incentivos para a construção de uma economia verde e porque essa quantia não pode provocar mudanças significativas a favor de uma economia global mais sustentável. E, naturalmente, tudo fica reduzido à grande questão do governo da economia mundial. E cabe perguntar: esse é o fórum mais apropriado para tomar estas decisões e verdadeiramente adequado para enfrentar a defeituosa ordem financeira mundial que foi criada imprudentemente através das décadas?
O G-20, que inclui apenas 20 nações do mundo, não é o melhor lugar para idealizar os planos destinados a enfrentar a crise mundial. As Nações Unidas, que incluem 192 Estados-membros, são o fórum adequado. Reuniões da ONU previstas para os próximos meses (Conferência das Nações Unidas sobre a Crise Econômica e Financeira Mundial e seu Impacto no Desenvolvimento, marcada para junho, e a Conferência de Copenhague sobre Mudança Climática, em dezembro) serão chaves para avançar nestes temas. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, não pode falar em nome de Bangladesh nem Brown em nome do Zimbábue.
Há tempos assistimos reuniões de líderes mundiais nas quais são prometidas grandes ajudas para o desenvolvimento, mas pouco é cumprido. Francamente, suas palavras frequentemente soam falsas. Para a África somente, os doadores estão US$ 40 bilhões a menos do prometido em ajuda para o desenvolvimento durante a reunião de Gleneagles (Escócia), em julho de 2005. Alguns países, particularmente os da África subsaariana, não precisam mais de empréstimos, mas de doações sem condições, para poder alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. De outro modo, a mesma solução pode se transformar em um problema.
A reafirmação do compromisso do G-20 com suas "respectivas promessas, incluindo as referentes à ajuda para o financiamento do comércio, o alívio da dívida e as feitas em Gleneagles, especialmente com relação à África subsaariana", é, portanto, bem-vinda. Porém, a realidade é dramática. Os países pobres estão em estado de total desespero. Estão sofrendo os gravíssimos efeitos do encarecimento dos alimentos e da energia, bem como da mudança climática que avança, e agora, além do mais, sofrem uma crise que de modo algum foi causada por seus governos.
Na realidade, necessitamos de uma representação igualitária de todos os países do mundo para reparar uma economia global desestabilizada e injusta. As intenções expressas pelo G-20 são boas, mas omitem importantes detalhes que mostrem como serão protegidos os pobres e como será canalizado o dinheiro para as mulheres e as crianças mais necessitadas. Os que estão no movimento antipobreza não podem descansar um só instante nem desviar o olhar do tema nos próximos meses. Esta luta está longe de ter acabado e manteremos uma considerável pressão para conseguir que se faça justiça com os que mais merecem.
Kumi Naidoo é copresidente do Chamado Mundial à Ação Contra a Pobreza (GCAP).(Envolverde/IPS)

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