terça-feira, abril 07, 2009

Nunca me execraram, humilharam ou abateram.

Eu não sei ter um sonho.
Eu não sei comer um sonho. Nenhum outro doce.
Não sei tomar leite, nem falar Inglês.
Não tenho faculdade, não sei escrever, não sei dirigir, nem rezar.
Nunca tive uma cárie, nunca viajei para fora nem para dentro do país.
Não sei o que é roupa bonita, nem o que é um livro bom.
Não sei nada na vida a não ser insistir.
Nunca me contorci de dor de dente, de porrada, de violência pra lá deixada como se nada, nunca tentei superar, nunca escolhi chorar, sempre escolhi escrever coisa fraca...
Sobre as dores do corpo e da vida, nunca me abandonei.

Não tenho fé, não tenho esperança, não tenho liberdade, não tenho coragem, não tenho um sonho, nem dois, nem três por cinco.
Nunca furei um horário, nunca senti tristeza, esmero ou algo impávido.
Nunca vi um trovão fazer par com um raio, nunca vi novela, nunca entendi macumbeiro, nunca me compadeci, nunca vi um filme brasileiro, nunca me comovi com aqui.
Nunca me execraram, humilharam ou abateram.
Nunca entendo o ano passado, nem o meu aniversário, nem o ano que vem.
Não sei nada a não ser bem saber que as portas do mundo são fechadas para mim.
Mas...
Eu continuo sabendo que, entre outras coisas, um é dois e três é cinco.
Passagens Do Hum Anjo

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