sábado, abril 04, 2009

"A injustiça é pior do que a cegueira"

 PF arquiva investigação contra diretor por tortura
 
Uma reportagem da revista Carta Capital deste fim de semana afirma que a corregedoria-geral da Polícia Federal arquivou, no dia 29 de janeiro, um processo de tortura supostamente praticada pelo diretor-geral da instituição, Luiz Fernando Corrêa. A publicação afirma que teve acesso aos dados por meio do advogado da mulher que teria sido torturada, a empregada doméstica Ivone da Cruz.

Segundo a revista, Corrêa era acusado de deter irregularmente e torturar Ivone, com chutes, socos e eletrochoques em 21 de março de 2001, em Porto Alegre. Corrêa era chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da PF no Rio Grande do Sul.

Ivone tinha 39 anos na época e trabalhava na casa de uma mulher identificada como Ocacilda, avó da mulher do delegado, Rejane Bergonsi. A suposta vítima foi apontada como suspeita de cumplicidade com assaltantes que invadiram a casa de Ocacilda.

Apesar de não ser competência da PF, Corrêa teria entrado nas investigações do caso. Ela teria sido levada para a superintendência da instituição em Porto Alegre, onde, segundo os relatos da reportagem, foi espancada.

À Carta Capital, a PF afirmou que não poderia fornecer a sindicância sobre a acusação de tortura. O diretor-geral da PF alegou, segundo a revista, que entrou no caso porque, ao tomar conhecimento do assalto, soube que a Polícia Civil tinha outras prioridades.

A corregedoria afirmou que o arquivamento da investigação foi feito após a Justiça Federal decidir não dar continuidade ao processo. Informado sobre as acusações, o ministro da Justiça, Tarso Genro, disse à revista, por meio de sua assessoria, que confia nas decisões judiciais.

O Terra tentou entrar em contato com a PF, mas não recebeu retorno até o momento.

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Do Carta Capital Lei a matéria na íntegra

Em um bairro poeirento de Alvorada, onde vive há oito anos, entrevada em um quarto, sob efeito de calmantes, Ivone da Cruz se mantém alheia às contradições das autoridades. Sobrevive com um salário mínimo da aposentadoria do INSS. Segundo ela, depois de ser torturada, nunca mais conseguiu trabalhar, por causa das dores de cabeça, da depressão e, finalmente, da perda de visão. Para tentar uma indenização, o advogado Volnei Oliveira teria de provar a relação entre a perda da visão e a tortura, tese prejudicada pelo arquivamento do processo. "A injustiça é pior do que a cegueira", reclama Ivone, baixinho, com os punhos fechados sobre os olhos, numa tentativa inútil de esconder as lágrimas e a dor.

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