Celulose pode ser alternativa ao amianto
5/8/2008
A proibição do uso de amianto vai provocar uma escassez de matéria-prima no aquecido setor de construção civil. As empresas do segmento correm contra o tempo em busca de alternativas, mas avaliam que a produção será insuficiente para suprir a demanda brasileira, estimada em 40 mil toneladas. Isso porque o amianto é quase perfeito para a construção civil. É leve, resistente à água e ao fogo, barato, fácil de transportar e de usar. O único problema é ser mortal. Provoca câncer de pulmão ou uma doença que prejudica todo o sistema respiratório conhecida como asbestose. Por isso, seu uso vem sendo banido dos países desenvolvidos nas últimas décadas. O Brasil deu seu primeiro passo em direção a este grupo no dia 4 de junho passado, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) ratificou uma decisão do Estado de São Paulo de 2007, que proibia a venda de produtos com amianto no território paulista.
A proibição já era esperada e deverá ser implementada em outros estados. Por isso, as empresas do setor agora aceleraram a pesquisa de alternativas que começou há alguns anos. Companhias que nunca haviam pensando em fornecer para o setor de construção também querem abocanhar uma fatia desse mercado. Um bom exemplo é a italiana Radici Fibras, fabricante de fibras para a indústria têxtil, que se prepara para produzir uma fibra acrílica (PAN) para substituir o amianto nas ligas com cimento e concreto.
Com fábrica em São José dos Campos (SP), a Radici investiu R$ 4 milhões na compra dos equipamentos necessários ao novo produto, além de quase R$ 300 mil aplicados em testes desde 2006. Investimentos aprovados, era hora de adquirir os equipamentos, que devem chegar em dezembro, dando condições à empresa de produzir até 10 mil toneladas de fibra acrílica por ano já em 2009.
A ordem é buscar parcerias com empresas que queiram testar o fio acrílico como insumo na produção de itens em fibrocimento - nome dado à mistura entre cimento e fibras, usada principalmente em telhas e caixas d''água. "Nós temos a tecnologia, elas têm o know how", diz Luciano Radici, presidente da empresa. O faturamento no Brasil foi de 100 milhões de reais em 2007, 10% do total mundial, e deve crescer 15% este ano, diz Radici.
Insumos alternativos
Outras 12 empresas do setor também estão procurando opções. A Eternit, dona de 30% do mercado e uma das maiores prejudicadas pela medida, pesquisa fibras alternativas há quase dez anos e destina cerca de R$ 3 milhões por ano ao desenvolvimento de novos produtos. "Se existe demanda para produtos sem amianto, a Eternit vai oferecê-los ao mercado", diz Élio Martins, presidente da empresa. A Eternit possui a terceira maior mina de amianto do mundo, por meio de sua controlada Sama, localizada em Goiás. Mina esta que já foi do grupo francês Saint Gobain e que, por decisão da matriz, deixou o negócio amianto em todo o mundo. Martins diz que o Brasil tem grandes vantagens no uso do amianto, pois as alternativas encarecem em até 60% os produtos de fibrocimento.
Concorrentes menores também estão se mexendo. A curitibana Isdralit, fabricante de materiais de construção, está desenvolvendo o uso de celulose na fabricação das telhas, aperfeiçoando uma tecnologia italiana que comprou há dez anos. Atualmente, a técnica não chega a 10% de suas telhas, mas poderá chegar a toda produção se a proibição paulista se estender para outros estados. "O problema é que custará 40% a mais", diz Alberto Isdra, diretor da Isdralit.
A catarinense Imbralit e a paulista Infibra buscam uma alternativa sustentável para o amianto desde 2001, quando passaram a financiar conjuntamente estudos desenvolvidos pela Universidade de São Paulo (USP). "Essa questão do amianto sempre foi uma faca apontada para a nossa cabeça", diz Gilberto Martim, diretor técnico da Infibra. As duas empresas destinam um total de R$ 30 mil por mês para manter o estudo, que também é apoiado por órgãos estaduais e federais de incentivo à pesquisa.
Escassez de matéria-prima
A principal fibra sintética que substitui o amianto é a resina plástica de polivinil álcool (PVA), utilizada na maioria dos países da Europa, onde a proibição existe há anos. O problema é que a PVA só é produzida na China e Japão e também é um insumo para a indústria têxtil, o que provoca uma escassez aguda. Se somar a alta dos preços do petróleo e os custos logísticos o produto feito com PVA encarece ainda mais.
Esse fenômeno ocorre também com as outras alternativas ao amianto, como a fibra de celulose e a de polipropileno (PP). A PP tem uma vantagem em relação à PVA, por ser produzida no Brasil pela Brasilit, empresa do grupo Saint Gobain. A Brasilit, que era associada à Eternit, também abandonou o amianto no fim do anos 90, seguindo a orientação da matriz francesa. Hoje a empresa produz telhas e caixas d''água de PP em lugar do amianto. Para isso, construiu uma nova fábrica, em 2004, com capacidade para 10 mil toneladas ao ano. Embora auto-suficiente, a Brasilit não tem condições de suprir o mercado inteiro.
Fonte: Celulose Online / Gazeta Mercantil.
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