Incidência da infecção por HIV entre homens com até 11 anos de estudo saltou de 15% para 27% em 10 anos
Emilio Sant'Anna
Enquanto o número de novos casos de AIDS caiu entre as pessoas de menor escolaridade nos últimos dez anos, a infecção pelo HIV avançou na população mais escolarizada de São Paulo. Um levantamento inédito da Secretaria de Estado da Saúde comprova o crescimento do que pode parecer um contra-senso. Nem mesmo o maior acesso a informações sobre prevenção foi capaz de proteger os paulistas com mais de oito anos de estudos. Diferentemente, a educação beneficiou os menos favorecidos.
Em 1997, quando 3.371 Mulheres se contaminaram no Estado, 12,2% das paulistas que contraíram a doença tinham entre 8 e 11 anos de estudo. No ano passado, esse índice mais que dobrou e chegou a 25,4% dos casos. No mesmo período, as contaminações de Mulheres que freqüentaram a escola por no máximo três anos caiu de 33,2% para 7,5% do total de casos em 2007. "Nos últimos anos, temos assistido o aumento de casos nessa população (de maior escolaridade)", afirma o infectologista Jean Gorinchteyn, do Ambulatório do Idoso do Hospital Estadual Emílio Ribas.
Entre os homens, o fenômeno se repete. Aqueles com 8 a 11 anos de estudo representaram 26,8% do total de casos no ano passado, contra 15,3% em 1997. Para os paulistas com no máximo três anos de freqüência escolar, esse índice caiu de 28% para 5,3% no mesmo intervalo.
O fenômeno não é exclusividade do Brasil, afirma o presidente do Grupo de Apoio à Prevenção à AIDS (Gapa) de São Paulo, José Carlos Velloso. "Essa é uma tendência que notamos no mundo todo, principalmente entre Mulheres de países desenvolvidos e em desenvolvimento."
Entre 1997 e 2007, o total de diagnósticos de AIDS no Estado de São Paulo caiu de 10.496 para 4.797 novos casos. Outro dado do levantamento da secretaria, no entanto, reforça a tendência de crescimento da AIDS na população de maior escolaridade. Entre 1997 e 2007, para aqueles que têm mais de 12 anos de estudo também houve aumento da incidência de contaminação por HIV, que passou de 3,5% para 4,3% no caso das Mulheres e de 6,9% para 8% no caso dos homens.
Para Velloso, apesar das informações sobre formas de prevenção estarem disponíveis para todos, o comportamento sexual vem se alterando de acordo com as mudanças sobre a percepção da epidemia de AIDS. "Infelizmente, as pessoas entendem a doença como coisa de grupo de risco e não de comportamento de risco, o que qualquer um com vida sexualmente ativa pode ter", diz.
A mudança de comportamento diante do HIV cria também a falsa impressão de segurança em relacionamentos considerados estáveis. Muitas vezes, após a segunda ou terceira relação com a mesma pessoa, o preservativo deixa de ser usado.
TRATAMENTO
O avanço terapêutico com a introdução do coquetel de medicamentos, distribuído gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e o aumento da expectativa de vida dos pacientes soropositivos também contribuíram para mudar a percepção da população sobre a doença. "As pessoas têm acesso à informação, mas têm também a falsa impressão de que tratar a doença é como tratar de uma pneumonia, por exemplo", diz Gorinchteyn. "Falta saber que terão de tomar o remédio pelo resto da vida e que não é um tratamento fácil."
O jornalista Paulo Giacomini sabe como é o tratamento. Aos 46 anos, convive com o vírus da AIDS há pelo menos 20 anos. Na época, meados da década de 1980, o acesso a informação era bem mais restrito e, como ele diz, "o diagnóstico era uma sentença de morte".
Os soropositivos eram facilmente identificáveis pela ação devastadora da doença, os medicamentos disponíveis resumiam-se a poucas drogas como o AZT e os efeitos colaterais eram fortíssimos.
Hoje, o coquetel distribuído pelo SUS assegura o controle da carga viral, mas mesmo assim costuma ter efeitos indesejáveis. "Antigamente o AZT deixava a pessoa com uma aparência acinzentada. Agora, as pessoas não têm a dimensão que os remédios causam efeitos tão desagradáveis como, por exemplo, a diarréia", diz.
Giacomini tem insônia freqüentemente. Quando consegue dormir, os pesadelos também são constantes. "O Efavirenz, que é usado por cerca de 40% dos pacientes com HIV, causa insônia, tontura e pesadelos", afirma.
Para ele, depois de tanto tempo do início da epidemia, o aumento de contaminações entre a população com maior escolaridade causa espanto, mas pode ser explicada pela resistência em usar o preservativo. "Essa nova geração não viu a geração do Cazuza", diz.
O Estado de S. Paulo
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MULHER ,MULHER PROTEJA-SE
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