quarta-feira, novembro 12, 2008

Lasciate ogni speranza, voi ch'entrate "Abandonai toda a esperança, vóis que entrais aqui".

Pelo rapaz  assassinado por um segurança particular em São Paulo por estar de bermuda e camiseta!
 
O que aconteceu com o Juiz Roberto Schuman  em 02/2008 no Rio de Janeiro

"As minhas marcas no pulso já desapareceram, mas as marcas que ficaram só me fortaleceram", disse Schuman durante o ato de solidariedade. "Nunca deixem nada passar. Se queremos que as coisas sejam diferentes, não podemos ficar inertes."

 

Juiz Roberto Schuman 

...

 

Em nota, o juíz contou que quando atravessou a rua foi quase atropelado pelo carro da Core, mas pediu desculpas e continuou caminhando. Segundo ele, os policiais então passaram a segui-lo e dizendo "saia da rua, seu malandro e bêbado". O juiz disse que rebateu dizendo "isto não é jeito de tratar as pessoas na rua e respondi: não sou bêbado nem malandro; se vocês não estiverem em operação, está errado andarem com essa viatura preta e apagada, pois quase me atropelaram e vão acabar atropelando alguém".

Ao ser preso, o juíz afirmou que tentou se identificar, mas os policiais duvidaram que era magistrado. "Fui atirado na mala do camburão como bandido, algemado, porém, com o celular no bolso e os três policiais do Core dizendo que no máximo eu deveria ser juiz arbitral ou de futebol", diz a nota de Schuman.

O juiz contou ainda que após chegar à delegacia, um dos policiais tentou dissuadi-lo a não denunciá-los.

De: Roberto Schuman
Enviada: sex 8/2/2008 13:09
Para:
lista@ajufe.org.br; juizes@jfes.gov.br; juizes@jfrj.gov.br
Cc: gab.cesar.rocha@stj.gov.br; arschuman@gmail.com
Assunto: email aberto - Roberto Schuman

Primeiramente aviso que estou em um computador com problemas no teclado, logo, nao ha pontuacao na mensagem.

Amigos:

Acho que nem e preciso dizer a situacao vexatoria pela qual passei, como ser humano e magistrado.

O mais importante e que mesmo algemado na mala do camburao, apos os policiais estarem com minha identificacao do TRF e dizendo que talvez pudessem nao me levar para a DP, aos risos e chacotas, consegui ligar para os setores de seguranca do TRF e do TJ/RJ, pedindo o rastreamento da viatura do CORE na qual eu estava para evitarem um mal maior.

Felizmente os danos fisicos se limitaram aos meus pulsos, quando, apos ter me identificado como juiz federal o policial cujo link segue abaixo, bem novo, diga-se, apertou as algemas ate os meus ossos, rindo. Tenho certeza que se tratavam de pesssoas sem qualquer equilibrio para o convivio em sociedade, mais ainda trajando fardas pretas da elite da Policia Civil/RJ com pistolas automaticas apontadas para mim. Certamente constituem-se excecao dentro do seio policial.

http://www.policiacivil.rj.gov.br/noticia.asp?id=2886

A historia foi escrita por mim visando a publicacao em jornais, ate mesmo para se propor um debate serio sobre o atual estado de coisas, pois no mesmo jornal que noticiou um juiz federal algemado no camburao pela suposta pratica de um delito de menor potencial ofensivo havia um bicheiro - reu em processo criminal - em cima de um caminhao oficial do corpo de bombeiros fluminense, logo, aparelho do Estado.

Ressalto que nao tenho palavras para agradecer os varios telefonemas de apoio recebidos e mensagens de colegas e amigos de todas as carreiras do meio juridico e de outras diversas, todos, resumidamente, com a seguinte preocapacao: se aconteceu isso com um juiz, o que vira em seguida. E o cidadao comum?

Bom, agradeco o apoio imediato da AJUFE, que no dia seguinte ja estava ao meu lado, e, novamente, de todos os amigos. Segue abaixo a minha manifestacao, que esta livre para a mais ampla divulgacao possivel, bem como este email, para que isso nunca mais volte a ocorrer, com quem quer que seja.

Havera uma sessao de desagravo provavelmente as 17:00 horas do proximo dia 13, quarta-feira, no auditorio do foro da justica federal da Av. Rio Branco, no centro do Rio de Janeiro.

Por ultimo, confesso que sai do camburao algemado me sentindo como um trapo, um lixo, em relacao a minha cidadania e minha condicao funcional, contudo, apos esses dias saio um cidadao e um magistrado ainda mais forte, e isso eu devo a todos voces.

Atenciosamente,

Roberto Schuman

Segue a carta:

O Juiz, a Polícia e o Malandro.

            Segunda-feira de carnaval, saio de casa perto das 22:00 horas para encontrar a namorada na porta do Circo Voador, na Lapa.  Lá chegando, saio do táxi falando ao celular para encontrá-la.  Mas não é só. Além de tênis, bermuda e camisa, usava um chapéu, desses vendidos em todos os cantos da cidade a R$ 5,00. Presente da namorada. Coisa de mulher.

            Então, atravesso a rua e quase sou atropelado por um camburão com luzes e lanternas apagadas com a inscrição CORE no carro.  No mesmo momento o motorista grita " Ô malandro" e eu, assustado, dou um pulo para a calçada, peço desculpas e viro as costas, continuando ao celular e andando, já na calçada.

            Ai, percebo que a viatura andava ao meu lado, com três policiais de preto, ao que escuto, em alto e bom som: "Saia da rua, seu malandro e bêbado". Nesse momento, pensei: Isto não é jeito de tratar as pessoas na rua e respondi: "Não sou bêbado nem malandro; se vocês não estiverem em operação, está errado andarem com essa viatura preta e apagada, pois quase me atropelaram e vão acabar atropelando alguém!"

            Oportunidade em que os homens de preto descem da viatura dizendo: "Ô malandro, tu é abusado, tá preso". Ato contínuo, diante da voz de prisão, estendo os dois braços para ser algemado. Pergunto ao mais novo dos três, que estava completamente alterado: "Qual o motivo da prisão?" Resposta: "Desacato". Pergunto novamente: "O que os senhores entendem como desacato?"  Resposta: "Até a DP a gente inventa, se a gente te levar pra lá".  Neste exato momento, percebendo a gravidade da situação, disse: Estou me identificando como juiz federal e minha identificação funcional está dentro da minha carteira, no bolso da bermuda. Imediatamente o policial novinho, que se identificou como André e na DP disse se chamar Cristiano meteu a mão no meu bolso, pegou a minha carteira e a colocou em um dos bolsos de sua farda preta. Então o impensável aconteceu! Disseram: "Juiz Federal é o c..., tu é malandro e vai para a caçapa do camburão.

            Fui atirado na mala do camburão como bandido, algemado, porém, com o celular no bolso e os três policiais do CORE da Policia Civil do Estado do Rio de Janeiro, dizendo que no máximo eu deveria ser "juiz arbitral ou de futebol". Temendo pela vida, por incrível que pareça me veio aquela frase de Dante, da sua obra "Divina Comédia": "Abandonai toda a esperança, vóis que entrais aqui". Então, sem perder as esperanças, peguei o celular do bolso mesmo algemado e liguei para a assessoria de segurança da Justiça Federal informando a situação, bem baixinho, e que não sabia se seria levado para DP, pedindo para acionar a PM e localizar a viatura do CORE que estava circulando pela Lapa comigo jogado algemado na mala.

            Após a ligação, disse-lhes uma única coisa, ainda na viatura. "Vocês estão cometendo crime, ao que escutei dos três, aos risos: "juiz federal andando com esse chapéu igual a malandro. Até parece. Se você for mesmo juiz, a gente vai chamar a imprensa, pois juiz não pode andar como malandro."

            Na delegacia, as gracinhas dos policiais continuaram: "Olha o chapéu do malandro". Então eu disse, já me sentindo em segurança: "Vocês querem que eu tire o chapéu e vista terno e gravata?"

            O fato é que já na presença do delegado as algemas foram retiradas e, vinte minutos depois, um dos policiais de preto vem ao meu encontro e me pede: "Excelência, desculpas, nos agimos mal, podemos deixar por isso mesmo?" Respondi: "Primeiro. Não me chame de Excelência, pois até há pouco vocês me chamavam de malandro. Segundo. Não, não pode ficar por isso mesmo. Como é que vocês tratam  assim as pessoas na rua, como se fossem bandidos. Terceiro. Vocês três não honram a farda que estão vestindo. Quarto. Desde a abordagem policial agi apenas como cidadão, no que fui desrespeitado e, depois de ter me identificado como juiz federal, fui mais ainda, logo, um crime de abuso de autoridade seguido de outro de desacato.

            Depois do circo montado pelo próprio agente do CORE Cristiano, que ligara do interior da DP para os repórteres, de forma incessante, talvez temendo que ele e seus dois colegas de farda preta fossem presos por mim no interior da DP, decidi não fazê-lo porque em nada prejudica a instauração de procedimento administrativo na Corregedoria da Policia Civil, bem como a ação penal por abuso de autoridade e desacato, sendo desnecessário mencionar o dano à minha pessoa, como cidadão e magistrado.

            Pensei, por fim: "Se como juiz federal fui ameaçado por três homens de fardas pretas com pistolas automáticas, algemado e jogado como um bandido na mala de um camburão, simplesmente por tê-los repreendido, de forma educada, como convém a qualquer pessoa de bem, o que aconteceria a um cidadão desprovido de autoridade e de conhecimento dos seus direitos?" Duas coisas são certas, de minha parte: Não permitirei nada "passar" em branco, pois são fatos sérios e graves que partiram daqueles que têm o dever de zelar pela segurança da sociedade e, no próximo carnaval, não usarei o presente da namorada, o tal "chapéu". É perigoso. Pode ser coisa de malandro.

Roberto Schuman - Cidadão e Juiz Federal no Estado do Rio de Janeiro

( grifos deste Blog )

http://odia.terra.com.br/rio/htm/amb_divulga_nota_em_solidariedade_ao_juiz_roberto_schuman_150751.asp

 http://www.amaerj.org.br/index.php?option=content&task=view&id=1806http://www.amaerj.org.br/index.php?option=content&task=view&id=1806

 

http://www.ajufe.org.br/001/00101001.asp?ttCD_CHAVE=785&btOperacao=http://www.ajufe.org.br/001/00101001.asp?ttCD_CHAVE=785&btOperacao=

 

http://www.territoriomulher.com.br/index.asp?id=621

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