terça-feira, agosto 05, 2008

Muitos Sinos se dobrando na violência da Bahia

Por quem os sinos dobram?


Por Tatiana Ribeiro

   Mais de 14 mil pessoas assaltadas este ano, 3.150 carros roubados ou furtados, 1.680 assaltos a ônibus e quase 1.300 homicídios. Este é o mapa da violência em Salvador e Região Metropolitana nos últimos sete meses. A capital baiana ocupa o 5º lugar das cidades mais violentas do país. Por este motivo, o poder público e a igreja católica estão mobilizados para combate a criminalidade. Por isso, convocados pelo cardeal arcebispo dom Geraldo Majella, fiéis católicos lotaram as igrejas ontem para celebrar um dia de oração pela paz. "È preciso criar uma cultura de paz e mobilizar a comunidade para que todos se mobilizem contra a violência", disse o cardeal.
  De acordo com o assessor de comunicação da Arquidiocese de Salvador, padre Manoel Filho, a violência não é apenas uma questão meramente social. "Existem muitas pessoas de situação social de relevância que cometem crimes e alimentam o tráfico de drogas", disse. Ainda segundo o padre Manoel, o aparato policial não é suficiente para pôr fim à marginalidade. Criar uma cultura de paz, por meio de orações, seria a solução mais eficaz para o combate à violência. " A transformação tem ser da pessoa. Por isso, estamos mobilizando a sociedade para o projeto "Um dia pela paz", que tem como objetivo dar uma visibilidade a essa questão que preocupa a sociedade." O evento é meramente social e não terá articulações com a Secretaria da Justiça e Direitos Humanos e Secretaria de Segurança Pública.
  Para o padre, assessor de comunicação, a família é essencial na formação da cultura da paz. "Hoje em dia, os pais estão mais preocupados em ser mantenedores do que educadores e transferem essa responsabilidade para a escola. Antigamente, as famílias transmitiam para seus filhos valores de civilidade e educação formal. Atualmente isso não existe mais", lamentou o comunicador religioso.


  
Muita fé e oração para combater a violência

   ; Fé e oração. Esta é a receita da igreja católica para combater a violência que, de acordo com o cardeal arcebispo dom Geraldo Majella assumiu proporções preocupantes em Salvador. Com essa visão, ele convocou fiéis de todas as paróquias para um dia de rezas e reflexões, e iniciou o projeto "um dia pela paz".
  Na manhã de ontem milhares de baianos lotaram a igreja do Senhor do Bonfim, na Cidade Baixa, onde, às 7 horas aconteceu uma missa marcando o inicio do projeto. "Esse é apenas o começo de um processo de comoção para toda a comunidade", salientou o arcebispo. Ás 12 horas e às 18 horas os sinos dobraram nas igrejas católicas, como a lamentar pelas vítimas da violência. Os sinos dobraram pelas vítimas das chacinas, de assaltos, e de homicídios. "
  Em conseqüência da violência, o povo vem assimilando uma cultura de morte. Com esse movimento, a igreja católica promove a cultura pela paz", destacou o padre e reitor da basílica do Senhor do Bonfim, Edson Menezes.
  Acrescentou ainda que, a pretensão é lutar constantemente com todas as religiões e credos, "contra essa situação". As seis missas das sextas-feiras no local não foram alteradas, porém, das 13h às 17 horas, os fiéis tiveram a adoração ao santíssimo que aconteceu também em todas as igrejas da capital.
  Dentro ou fora do templo religioso, de joelhos, em pé, ou sentados, os fiéis oravam e clamavam por paz, como a balconista Amélia Santana Matos, 53 anos. Freqüentadora do santuário todas as sextas-feiras, ela destacou a importância do evento. "Precisamos muito de paz. Acho que a população deve ter mais amor no coração, vindo para a igreja e tendo uma religião".
  Vestido de branco e em comemoração aos 59 anos de vida, o motorista Roberto Bispo Abreu, se surpreendeu com a iniciativa do arcebispo. "A violência está demais em Salvador. Isso é muito importante também que aconteça em outras cidades do Estado e não só aqui. Vim pedir bênção para mim e todos os soteropolitanos, que eles tragam mais amor e caridade no coração".
  Ao meio-dia aconteceu o repicar dos sinos em todas as igrejas da capital, escolas, conventos, hospitais e cemitérios também aderiram, a vigília fazendo um minuto de oração. Alunos, pacientes, religiosos, funcionários e visitantes desses locais, rezaram no intuito de pedir harmonia entre a população da capital baiana. Às 18 horas houve a procissão luminosa no entorno da praça em frente à igreja do Bonfim. Moradores de Salvador também acenderam velas nas portas e janelas das residências confirmando a participação no programa.
  Conforme dados fornecidos pela Secretaria de Segurança Pública, mais de mil e quinhentas pessoas foram assassinadas na capital baiana até julho deste ano. Os bairros mais atingidos pela crescente onda de violência foram Engenho Velho da Federação, Cabula, Cajazeiras, Sussuarana, São Cristóvão, além do subúrbio ferroviário. (Por Karina Baracho)


  
Delegado-chefe quer apoio da população

   ; Para Joselito Bispo, delegado-chefe da Polícia Civil, a responsabilidade de combater a violência não é só da polícia, mas de toda a sociedade, através de denúncias de pontos de tráfico de drogas, de autores de assassinatos e também na prevenção de brigas . "Uma pequena discussão pode acabar em uma morte. Nós estamos trabalhando em operações baseadas em serviços de inteligência nos pontos em que há grupos identificados. Esse é um trabalho de longo prazo. Comparo a uma criança de 5 anos. Temos que trabalhar sua educação desde cedo para ter resultados satisfatórios".
  Ainda de acordo com o delegado-chefe, o combate à criminalidade não se faz só com homens, armas e viaturas, mas com qualificação dos policiais e conscientização da sociedade para o problema. "Deveria existir um trabalho na escola, envolvendo os diretores e famílias, resgatando valores. O trabalho é geral e tem que começar com a criança de 10 anos, ensinando o resgate da dignidade. Essas crianças se tornariam adultos com outra mentalidade. Essa é a forma mais eficaz de diminuir o crime", considera Joselito Bispo.
  Para o padre Manuel Filho, a igreja católica desenvolve um trabalho de grande relevância para a diminuição da violência. "Temos a pastoral carcerária, da criança e da mulher infratora. O objetivo é difundir a paz nos presídios", resume. Padre Manoel também ressalta que a cultura católica no Brasil é muito forte, e por isso, é grande a quantidade de presos que se dizem adeptos da religião. "Muitos confundem o lado profano com o sagrado. Simplesmente gostam de um santo, já foram à festa do Senhor do Bonfim e de Nossa Senhora da Conceição, e por isso se dizem católicos. Na verdade, não existe um vínculo com a igreja, nem um compromisso", concluiu.


Violência derruba comandante geral da PM


Por josalto alves - editor de segurança

   O governador Jaques Wagner exonerou ontem o comandante geral da Polícia Militar, coronel Antonio Jorge Ribeiro de Santana, a mais nova vítima da violência que inquieta a população de Salvador. A versão oficial é que o coronel Santana pediu exoneração por razões pessoais, mas sua saída já vinha sendo discutida há algumas semanas, por causa dos elevados índices de criminalidade, pelas constantes notícias de envolvimento de PMs em atos ilícitos, e principalmente pela postura do coronel, contrária à atuação integrada das polícias. O comandante exonerado será substituído pelo coronel Nilton Régis Mascarenhas.
  O comando da PM não se posicionou e até a noite de ontem não foi possível localizar nem falar com o relações pública da PM, capitão Marcelo Pita. O chefe do Departamento de Comunicação da PM, coronel Josival Marques, localizado pela reportagem da Tribuna da Bahia em Brasília, disse que a mudança é um ato rotineiro, na tentativa de se encontrar soluções para o problema da segurança pública na Bahia. Ele não detalhou os motivos da saída do coronel Santana, e disse que antes da transmissão de cargo o comandante exonerado deverá reunir a imprensa em entrevista coletiva para falar dos motivos de sua saída.
  Mas fontes da Secretaria da Segurança Pública garantiram, em off, que existia um distanciamento muito grande entre a cúpula da SSP e o comandante geral da PM. "Ele não concordava com o projeto de atuação integrada defendido pelo secretário da Segurança Pública", disse uma fonte confiável. As últimas operações da Polícia Civil articuladas com o Ministério Público contaram com apoio de policiais militares do COE, Comando de Operações Militares, mas no geral a participação da PM vinha sendo mínima.
  Assessores próximos ao governador Jaques Wagner preferiram não comentar o assunto e divulgaram nota dando conta somente da exoneração e da escolha do novo comandante, coronel Nilton Régis Mascarenhas.

  
Transmissão de cargo será dia 6

   O coronel Nilton Régis Mascarenhas, 56 anos, é o novo comandante-geral da Polícia Militar da Bahia. A passagem de comando será quarta-feira, dia 6, às 9h30, na Vila Policial Militar dos Dendezeiros, Cidade Baixa.
  Atualmente, o coronel Mascarenhas comanda o policiamento da região Leste, com sede em Feira de Santana. Ele também comandou o policiamento da Região Norte, em Juazeiro; o Policiamento Especializado, onde participou da criação e instalação das Companhias de Ações Especiais de Luis Eduardo Magalhães (Ciac), Posto da Mata (Caema), Vitória da Conquista (Caesg), Xique-xique (Caesa) e Esplanada (Cael); e o policiamento da capital, entre 2005 e 2007.
  Antes de ser coronel, Nilton Mascarenhas foi subcomandante da Companhia de Polícia de Proteção Ambiental (Coppa); comandante do Corpo de Alunos Oficiais da PM; assistente militar do subcomandante-geral; comandante do Batalhão de Choque; e do 20º Batalhão, em Paulo Afonso.
  Natural de Alagoinhas (BA), o novo comandante ingressou na PM em 1971, após aprovação no curso de formação de soldados. Antes de concluir, prestou vestibular para o curso preparatório de alunos oficiais, feito em 1972 e 1973, e ingressou na Academia da PM em 1974, tendo sido declarado aspirante a oficial em 1976.
  O coronel Mascarenhas fez diversos cursos de especialização nas PMs de São Paulo, Rio de Janeiro, Pará, Ministério da Justiça, Escola Superior de Guerra, Ufba e Uneb. Ele está concluindo pós-graduação em Direito Penal e Processo Penal, na Unifacs. Entre as especializações estão, Operações de Informações; Aperfeiçoamento de Oficiais; Planejamento e Gestão Estratégica e Controle de Conflitos e Situações de Crise.
  Casado com Maria Áurea Mascarenhas, o coronel é pai de três filhos: Marcos Vinicius, 21, Paulo Henrique, 19, e Maria Luiza, 8 anos.

  
Nove assassinatos agitam a polícia

   Nas últimas vinte e quatro horas, a Central de Telecomunicações da Polícia Civil e Militar (Centel) registrou nove assassinatos. Na madrugada de ontem, foram registrados dois duplos homicídios e um triplo. No Vale das Pedrinhas, três jovens foram executados sem chance de defesa. Carlos Alberto Pinheiro dos Santos Filho, 24 anos, Edson Santos Conceição e uma outra vítima não identificada. De acordo com a polícia, as vítimas foram alvos de cinco homens e não tem passagem pela polícia. Já no bairro de São Caetano, um homicídio seguido de suicídio chocou a população. O companheiro Marcos Paulo Santos Vieira, 32 anos, assassinou a tiros a esposa Elisângela de Jesus Reis, 26 anos, e depois se matou.
  Ontem pela manhã, por volta das 8hs, quando esperava o ônibus para ir trabalhar, o comerciante Roque Santos Moraes, 38 anos, foi alvejado com vários tiros, no bairro Sussuarana.
  Às 13hs, no bairro de Periperi, em Itacaranha, três homens encapuzados passaram em um carro Gol prata e executaram Manoel Maciel de Jesus, 27 anos. O crime aconteceu a 15 metros de sua residência. A mãe do rapaz, quando soube do crime, desfaleceu e teve que ser socorrida para o hospital. A família, em estado de choque, não comentou o caso. De acordo com policiais da 5ª delegacia, a vítima respondia por um homicídio ocorrido em 2001. E teria um ponto de droga. "È mais um crime por brigas entre traficantes", disse o delegado Deraldo Damasceno.
  No final da tarde de ontem, na Estrada do Coqueiro em Arembepe, dois homens foram assassinatos. A polícia disse que o crime é característico de rivalidade, pois os dois estavam juntos e com os seus pertence, o que descaracteriza assalto. (Por Lucy Andrade)

  
 
 
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Ana Maria C. Bruni

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