Se algo os acontecimentos recentes em Honduras confirmam, é aquilo que venho dizendo há anos: quem quer que, sem ser esquerdista, preste algum favorzinho aos esquerdistas, acaba sendo acusado por eles de fazer exatamente o contrário do que fez, de ser um direitista feroz e intolerante que só os persegue, maltrata e atemoriza.
Em 28 de junho, a Suprema Corte de Honduras determinou a prisão do presidente Manuel Zelaya por ter infringido a Constituição e ameaçado usar a força contra o poder legislativo. Os militares, em vez de executar a ordem, deixaram-se enternecer pelo desgraçado e permitiram que ele escapasse para a Costa Rica. Resultado: a esquerda mundial inteira os acusa de ter "expulsado" Zelaya, de ter dado um "golpe", de ter "rompido a estabilidade das instituições".
Se tivessem prendido o delinqüente e o levado a julgamento, a esquerda mundial poderia estar tão enfezada quanto está agora, mas não teria nenhum pretexto para dizer essas coisas. Teria de inventar outras mentiras, mais trabalhosas, menos persuasivas.
Não sei quantas décadas ou séculos de experiência e de sofrimento inútil a humanidade ainda precisará para compreender que indivíduos contaminados pela mentalidade revolucionária não são pessoas normais, confiáveis, das quais se possa esperar lealdade, gratidão, bondade ou acordo racional, mesmo em doses mínimas.
A história está repleta de casos de conservadores, católicos, protestantes, judeus, que arriscaram suas vidas para salvar comunistas perseguidos. Não consta dos anais do mundo um só episódio de comunista de carteirinha que tenha feito o mesmo por um reacionário, um só exemplo de radical islâmico que tenha arriscado o pescoço para livrar um infiel das garras dos aiatolás vingadores.
A mentalidade revolucionária não admite leis ou valores acima do poder revolucionário, não conhece caridade ou humanitarismo exceto como expedientes publicitários a serviço da revolução, não admite lealdade senão ao aparato revolucionário, não aceita a existência da verdade senão como simulacro de credibilidade da mentira revolucionária.
Com toda a evidência, é assim que funciona a mente dos srs. Luís Inácio Lula da Silva, Hugo Chávez, Marco Aurélio Garcia e demais próceres do Foro de São Paulo.
O sr. Lula acaba de dar mais um exemplo da sua mendacidade revolucionária infatigável, ao afirmar que o governo brasileiro nada sabia do retorno de Manuel Zelaya a Honduras, quando o próprio Zelaya confessa que foi tudo combinado com o sr. Marco Aurélio Garcia.
Colaboracionistas em profusão, espalhados pela mídia internacional, apressam-se em alardear que a presença do presidente criminoso na embaixada brasileira desestabiliza o regime hodurenho e o predispõe a concessões. Isso é pura guerra psicológica. Quem quer trégua não priva o inimigo de água e comida, nem atira nos agentes chavistas que o apóiam, camuflados de cidadãos hondurenhos. Quem está desestabilizada é a "ordem global", que mostrou toda a sua fraqueza, todo o seu desespero, ao ficar provado que, para destruí-la, basta um povo pequeno e corajoso dizer "Não".
Não acreditem em jornalistas que lhes apresentam a crise hondurenha como uma questão de aceitar ou rejeitar Zelaya na presidência. Esse problema nem sequer existe. Como presidente ou como cidadão, há uma ordem de prisão contra ele. Recolocá-lo no Palácio Presidencial é apenas garantir que ele irá para a cadeia com honras de chefe de Estado. Honduras não está lutando para se livrar de um político safado, mas para assegurar que a ordem legal e constitucional do país valha mais que a opinião de bandidos e tagarelas estrangeiros autonomeados "consenso internacional".
Para lidar com essa gente, toda precaução é pouca, toda suspeita é modesta, toda conjeturação de motivos sórdidos corre o risco de ficar muito aquém da realidade. Os hondurenhos parecem ser o primeiro povo do mundo que percebeu isso. Do Olavo de Carvalho
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